Em 07 de novembro de 1917, as forças
bolcheviques, constituídas por soldados e operários armados tomaram o
poder. Além disso foram eliminados os latifúndios, declarado o monopólio
estatal do sistema financeiro e do sistema de crédito e das
exportações. Estava formado o primeiro estado socialista.
ARússia antes de 1917
Em
1894, subiu ao trono russo o czar Nicolau II. Desde o século XVI, o
país era uma monarquia absolutista. A nobreza era proprietária de 25%
das terras cultiváveis do país, e a grande maioria da população - mais
de 80% - estava ligada direta ou indiretamente à terra.
As
condições de vida da maior parte dos camponeses eram péssimas. Em
geral, eles habitavam moradia precária e sem ventilação. Alimentavam-se
basicamente de pão preto, batata e torta de farinha de milho. Nas
aldeias raramente havia escolas, e a maior parte da população era
analfabeta.
No plantio e na
colheita eram usados instrumentos agrícolas antigos, como o arado de
madeira e a foice. Apenas em algumas grandes propriedades adotava-se uma
tecnologia moderna, que permitia o aumento da população.
Nas
cidades, a vida não era muito diferente da do campo. Em 1838, uma
investigação feita pelo Conselho Municipal de Moscou, abrangendo
milhares de casas dessa cidade, mostrou que grande parte da população
vivia em péssimas habitações:
"...
As escadas que conduzem aos sótãos, onde o povo reside, estão cobertas
de toda espécie de imundície. As próprias habitações estão quase cheias
de tábuas sujas sobre as quais se estendem colchões de palhas
pestilentos, tendo os cantos tomados pela porcaria. O cheiro é
desagradável e asfixiante".
Com
uma economia essencialmente agrária, a Rússia tinha poucas indústrias; a
maior parte dela pertencia a proprietários estrangeiros, principalmente
franceses, ingleses, alemães e belgas. No começo do século XX, um russo
descrevia assim as condições de vida dos operários:
"Não
nos é possível ser instruídos porque não há escolas, e desde a infância
devemos trabalhar além de nossas forças por um salário ínfimo. Quando
desde os 9 anos somos obrigados a ir para a fábrica, o que nos espera?
Nós nos vendemos ao capitalista por um pedaço de pão preto; guardas nos
agridem a socos e cacetadas para nos habituar à dureza do trabalho; nós
nos alimentamos mal, nos sufocamos com a poeira e o ar viciado, até
dormimos no chão, atormentados pelos vermes..."
Um clima explosivo
Os
problemas internos da Rússia se agravaram ainda mais após a guerra
Russo-Japonesa (1904-1905). A origem do conflito foi a disputa entre os
dois países por territórios na China e por áreas de influência no
continente. A derrota ante os japoneses mergulhou a Rússia numa grave
crise econômica e aumentou o descontentamento de diferentes grupos
sociais com o czar Nicolau II. Começaram a ocorrer greves e movimentos
reivindicatórios, duramente reprimidos pela polícia czarista.
Num
domingo de janeiro de 1905, trabalhadores de São Petersburgo, então
capital do Império Russo, organizaram uma manifestação para entregar a
Nicolau II um documento em que reivindicavam melhores condições de vida e
melhores salários. Uma multidão de cerca de 200 mil pessoas, entre elas
crianças e mulheres, dirigiu-se ao Palácio de Inverno, residência do
czar. As tropas do governo, que estavam de prontidão, receberam os
manifestantes com tiros de fuzil.
O incidente, que ficou conhecido como Domingo sangrento, provocou conflitos em toda a Rússia.
Tentando
diminuir as tensões sociais, o czar criou a Duma, espécie de
Parlamento. Contudo, os deputados eleitos das quatro primeiras dumas
foram de tal maneira pressionados pelo czar que pouco puderam fazer.
Esse
ambiente contribuiu para a difusão e a aceitação das idéias socialistas
- sobretudo as elaboradas pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels -
entre os movimentos sociais russos. Assim, essas idéias se tornariam a
base da Revolução Russa.
Em 1905,
surgiram os sovietes de trabalhadores, conselhos que se encarregavam de
coordenar o movimento operário nas fábricas. Os sovietes teriam papel
decisivo na revolução de 1917.
Oinício da Revolução
Em
agosto de 1914 a Rússia entrou na Primeira Guerra Mundial contra a
Alemanha e a Áustria-Hungria. Nicolau II acreditava que por meio da
guerra pudesse expandir o Império Russo e diminuir a insatisfação
popular.
No entanto, o fato
acentuou o descontentamento e precipitou o processo revolucionário. A
guerra agravou a situação econômica e social do país. Os soldados,
mal-armados e mal alimentados, foram dizimados em derrotas sucessivas.
Em dois anos e meio de guerra, a Rússia perdeu 4 milhões de pessoas.
Em
1915, o czar Nicolau II decidiu assumir pessoalmente o comando do
Exército, deixando o governo nas mãos de sua esposa, a Imperatriz
Alexandra, e de Rasputin, um monge que agia como conselheiro do czar.
Em
1917, a escassez de alimentos era muito grande e provocou uma série de
greves. Em 27 de fevereiro desse mesmo ano, uma multidão percorreu a
capital do Império pedindo pão e o fim da guerra. Os manifestantes
também criticavam o sistema monárquico.
A
polícia e o exército, agora ao lado dos manifestantes, não reprimiram o
movimento. Isolado, o czar abdicou, e um governo provisório foi
constituído, chefiado pelo príncipe George Lvov. Esse governo, dominado
pela burguesia russa, decidiu continuar na guerra, com planos de uma
grande ofensiva contra a Áustria-Hungria.
A
população russa, porém, discordava dessa orientação. O governo, sem
controle de seus exércitos, não tinha forças para impedir as deserções
dos soldados. Havia ainda a constante elevação dos preços dos gêneros
alimentícios, contra a qual o governo nada conseguia fazer.
Nesse
momento, grupos revolucionários já desenvolviam intensa atividade nas
cidades, reativando os sovietes de trabalhadores, com o objetivo
explícito de tomar o poder.
A
ofensiva do novo governou contra a Áustria-Hungria fracassou. Isso
agravou ainda mais a situação e provocou uma grande manifestação no dia
17 de julho de 1917, na capital do Império. Era o fim do governo
provisório de Lvov, substituído por Alexander Kerenski.
Naquele momento, três grupos e três diferentes propostas políticas se defrontavam pelo poder:
*
O Partido Democrático Constitucional, partido da burguesia e da nobreza
liberal, favorável à continuação da guerra e ao adiamento de quaisquer
modificações sociais e econômicas.
*
Os bolcheviques - maioria, em russo -, que defendiam o confisco das
grandes propriedades, o controle das indústrias pelos operários e a
saída da Rússia da guerra. Graças ao controle cada vez maior que
exerciam sobre os sovietes de operários e soldados, sua força crescia
continuamente. Seus dois principais líderes eram Vladimir Lenin e Leon
Trotski.
* Os mencheviques -
minoria, em russo -, que, embora contrários à guerra, não admitiam a
derrota da Rússia. Divididos internamente e indecisos quanto aos rumos
que o país deveria tomar, foram perdendo importância política.
A tomada do poder
Em
07 de novembro de 1917, as forças bolcheviques, constituídas por
soldados e operários armados tomaram o poder. Além disso foram
eliminados os latifúndios, declarado o monopólio estatal do sistema
financeiro e do sistema de crédito e das exportações. Estava formado o
primeiro estado socialista.
A partir de agosto de 1917, os bolcheviques passaram a dominar os principais sovietes e a preparar a revolução.
No soviete Petrogrado, novo nome de São Petersburgo, foi constituído o Comitê Militar para a Realização da Revolução.
Sob
o comando de Trotski, no dia 25 de outubro, os bolcheviques ocuparam os
pontos estratégicos de Petrogrado e o Palácio do Governo. Kerenski,
abandonado por suas tropas, foi obrigado a fugir.
Na
manhã do dia seguinte, os sovietes da Rússia, reunidos em Congresso,
confirmavam o triunfo da revolução, confiando o poder a um Conselho de
Comissários do Povo. O Conselho era presidido por Lenin.
As primeiras medidas do governo revolucionário foram:
* retirada da Rússia da guerra;
* supressão das grandes propriedades rurais, confiadas agora à direção de comitês agrários;
* controle das fábricas pelos trabalhadores;
* criação do Exército Vermelho, com a finalidade de defender o socialismo contra inimigos internos e externos.
Logo depois, os bolcheviques adotaram o sistema de partido único: Partido Comunista.
A defesa da Revolução: Trotskie o exército vermelho
Após
a tomada do poder pelos revolucionários, a Rússia viveu ainda três anos
de guerra civil. Nesse processo, a participação de Leon Trotski, um dos
mais importantes líderes da revolução, foi fundamental.
Culto
e com grandes capacidades de persuasão, Trotski comunicava-se bem tanto
com operários e camponeses quanto com uma platéia de intelectuais e
diplomatas.
Quando irrompeu a
guerra civil, a organização das tropas de defesa, o Exército Vermelho,
ficou sob sua responsabilidade. Em condições extramamente precárias, com
o país esgotado, recém-saído da Primeira Guerra Mundial, Trotski
conseguiu formar um exército forte e eficiente.
Com
o apoio popular, as tropas revolucionárias enfrentaram o Exército
Branco, composto por antigos oficiais do czar e prisioneiros do exército
austríaco. Além disso, enfrentaram tropas de países europeus, que
temiam que a revolução socialista se espalhasse pelo continente.
A consolidação da Revolução Russa
Sob
a direção de Lenin e com um plano que ficou conhecido como Nova
Política Econômica (NEP), os bolcheviques deram início à recuperação da
economia russa. Elaborada em 1921, a NEP procurou concentrar os
investimentos nos setores mais importantes da economia. Entre as medidas
adotadas encontravam-se:
* produção de energias e extração de matérias-primas;
* importação de técnica e de máquinas estrangeiras;
* organização do comércio e da agricultura em cooperativas;
*
permissão para a volta da iniciativa privada em diversos setores da
economia, como o comércio, a produção agrícola e algumas formas de
atividade industrial. Todos os investimentos tinham o rígido controle do
Estado, muitos deles eram feitos em empresas estatais.
Vários
Estados que tinha separado da Rússia durante a revolução - como a
Ucrânia - voltaram a se integrar e formaram, em 1922, a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), um Estado federativo composto
por quinze repúblicas.
Com a
morte de Lenin, em 1924, Stalin (secretário-geral do Partido Comunista) e
Trotski passaram a disputar o poder. Stalin defendia a idéia de que a
União Soviética deveria construir o socialismo em seu país e só depois
tentar levá-lo a outros países; Trotski achava que a Revolução
Socialista deveria ocorrer em todo o mundo, pois enquanto houvesse
países capitalistas, o socialismo não teria condições de sobreviver
isolado.
Stalin venceu a disputa.
Trotski foi expulso da URSS. A União Soviética ingressou, então, na
fase do planejamento econômico. Foi a época dos planos qüinqüenais,
inaugurada em 1928. Os planos se sucederam a transformaram a União
Soviética numa potência industrial. Contudo, a violência foi amplamente
empregada pelo governo para impor sua política.
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